O assassinato do Marcelo Aloizio Arruda, tesoureiro do PT – Partido dos Trabalhadores, é a expressão trágica do fanatismo que domina a cena política do Brasil, e que pode se intensificar na medida em que nos aproximamos das eleições presidenciais. Mais ainda se for confirmada a disputa entre dois candidatos intoxicados pela intolerância. O fanatismo que levou a este crime em Foz de Iguaçu mostra que caminhamos para as eleições mais violentas da história recente do Brasil, com risco de novas vítimas e com a ameaça de destruição da democracia. Se esta intolerância política não foi inventada por Bolsonaro, com certeza é ele e seus asseclas que estão propagando a violência e o desprezo pelos adversários, com seus discursos agressivos, suas ameaças, seu gestual militarista, o culto às armas e o estímulo à compra de armas pela população. Desde que assumiu a presidência, já foram registradas mais de um milhão de armas particulares no Brasil, o que, num ambiente de intolerância e ódio político, pode provocar novas tragédias como a de Foz de Iguaçu.
É verdade que a intolerância política já vinha se acumulando muito antes com militantes petistas em sucessivas agressões verbais, tentativa de impedir a presença de adversários em palestras e eventos, intimidações a políticos, intelectuais, jornalistas independentes. Nada comparável à propaganda demolidora de Bolsonaro contra os adversários, transformados em inimigos, mais diretamente ao PT e ao ex-presidente Lula, seu adversário nas próximas eleições. Quando ele diz, “um povo armado jamais será escravizado” e, ao mesmo tempo, repete que “só Deus me tirará da presidência”, ele está conclamando os seus fanáticos militantes para saírem do terreno virtual para o ataque direto aos inimigos. Ele recorre à facada que levou de Adélio Bispo para se apresentar como vítima da intolerância, confundindo a motivação política da morte de Marcelo com um ato isolado de um desequilibrado. Que, aliás, deve ter ajudado na sua improvável eleição.
As lideranças políticas do Brasil devem dar um basta a esta escalada de violência, chamar seus militantes e simpatizantes para o terreno da luta política na democracia. Um pacto pela paz política só teria eficácia, contudo, se Lula e Bolsonaro estivessem dispostos à convocação pela pacificação, pela paz política. Alguém acredita que Bolsonaro pode se livrar do seu rancor patológico?
P.S Artigo originalmente publicado na Revista Será?
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