Ainda é muito cedo para avaliar os rumos do terceiro governo de Luís Inácio Lula da Silva. Os dois primeiros mostram aspectos positivos e grandes equívocos. Ao longo da sua história liderando o PT, Lula impregnou a política brasileira de arrogância e hegemonismo, a maçante divisão “nós” e ‘eles”, os bons e justos (o PT) contra os perversos direitistas (todos os outros partidos e políticos). No entanto, desde o seu primeiro discurso depois de eleito, na noite mesmo de 30 de outubro, Lula vem dando sinais muito positivos de pacificação da política brasileira e de ampliação do leque de alianças. Naquele discurso, o presidente eleito afirmou: “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”. Ele ainda conclamou os brasileiros a se despojarem dos ódios e inimizades políticas que dominaram nos últimos anos e se acentuaram durante a campanha eleitoral, desfazendo amizades e dividindo famílias. “É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas (…) É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo”.
Discurso aguenta tudo, é verdade. Mas, pelo tom da fala do presidente eleito e de atitudes que vem tomando desde então, parece que ele está compreendendo a necessidade de uma distensão política e pacificação da sociedade, como condição mesmo para a governabilidade. Para além do discurso, Lula tem demonstrado a intenção de construir uma ampla frente política, recuperando e valorizando as lideranças que se engajaram na campanha do segundo turno, como Simone Tebet. Ele deve saber que não teria sido eleito sem o apoio e a mobilização de vários grupos políticos do centro democrático. Esta percepção se manifesta também na composição da Comissão de Transição, a começar com a entrega da coordenação a Geraldo Alckmin, o papel destacado de Tebet na área social e o convite a economista de orientação social-liberal, como Pérsio Arida, para compor o grupo de economia. Em todo caso, não dá para ignorar que alguns setores do PT já estão manifestando insatisfação com a amplitude da frente que Lula está formando, sinais de que terá de administrar muitos confrontos de concepção e de orientação política, principalmente na área econômica. A questão é: até que ponto o pacificador Lula vai conseguir equilibrar divergências do PT com as outras tendências políticas que o apoiaram na campanha e estão sendo mobilizados para a formação do governo.
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