O presidente da República, candidato à reeleição, vem, sistematicamente, passando um trator sobre todas as regras republicanas, e cometendo sucessivos crimes eleitorais. Desde julho, quando aprovou o valor de R$ 600 do Auxílio Brasil, ele vem se empenhando na compra disfarçada de votos da população de renda baixa, precisamente aquela que ele desprezou ao longo do seu governo, e que tende a votar no seu adversário, o ex-presidente Lula da Silva. Na época da aprovação do aumento do Auxílio, foi amplamente lembrado que a legislação eleitoral proíbe, terminantemente, a concessão de benefício do governo para indivíduos no período eleitoral, o que representa uma forma clara de atração do voto dos beneficiários. Sem falar que a medida estourava o teto de gastos e criava uma bomba fiscal futura, o presidente cometeu crime eleitoral, com a aprovação esmagadora dos congressistas.
Como, até recentemente, as pesquisas mostravam que o novo valor do Auxílio não tinha gerado o resultado esperado pelo presidente, e Lula continuava com vantagem expressiva no eleitorado de até dois salários-mínimos, o presidente criou mais dois mecanismos de transferência de renda para os pobres. Começou com o lançamento do empréstimo consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil que, seguramente, não têm a menor condição de assumir uma dívida para pagar com parte dos miseráveis 600 reais que recebem por mês. Com um agravante: o orçamento aprovado para o próximo ano destaca para o Auxílio Brasil apenas 400 reais, e a inflação de alimentos, que supera em muito a média dos índices inflacionários, já está comendo parte do auxílio. Para completar a compra de votos, a menos de dez dias das eleições, o governo inventou uma excêntrica utilização de FGTS futuro, o que se estima que o trabalhador ainda vai receber, para financiar a compra de imóveis. Além do risco de contar com receita futura incerta, a medida é mais uma forma de transferência de renda para os cidadãos, taxativamente vetada pela legislação eleitoral.
Não bastasse o uso descarado da distribuição de benesses aos eleitores às vésperas das eleições, logo no caso dele, que andou cortando programas sociais, como a Farmácia Popular e os programas habitacionais, a campanha de Bolsonaro lança mão de todos os recursos de falsificação dos fatos (fake news), para desmontar o adversário, ao mesmo tempo em que tenta maquiar a sua imagem de político autoritário, insensível e debochado, e de governante incompetente e irresponsável. O trator eleitoral do presidente se completa com a postura reiterada de empresários pressionando os seus funcionários a votarem em Bolsonaro, ameaçando com represálias, e com a aberta e difundida campanha de algumas igrejas e pastores evangélicos contra o fantasma do comunismo, que estaria encarnado no ex-presidente Lula.
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