Se estivéssemos no século XIX (ou mesmo início do século XX), o diretor-presidente da Anvisa, contra-almirante Antônio Barra Torres, teria desafiado Jair Bolsonaro para um duelo na Esplanada dos Ministérios em defesa da sua honra atacada por declarações levianas do presidente da República. O teor da nota divulgada por Barra Torres, em dura resposta às insinuações do presidente da República sobre interesses ocultos por trás da aprovação da vacinação contra Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos, é um desafio semelhante a um duelo, sem, contudo, a brutalidade do enfrentamento armado de antigamente.
Em outros tempos, jogaria uma luva no rosto de Bolsonaro, e mandaria que o capitão escolhesse as armas para o confronto. Na sociedade civilizada, Barra Torres utilizou como arma a lógica, a inteligência e a dignidade, precisamente o que mais falta ao presidente da República: “determine imediata investigação policial” ou, “se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”.
Bolsonaro nem mandou abrir processo nem se retratou, logo, segundo antecipava a nota de Barra Torres, o presidente da República está prevaricando. Demonstrando que não tem a grandeza para o cargo, a dignidade de se retratar e reconhecer as leviandades dos seus pronunciamentos, Bolsonaro apenas recuou para dizer que não tinha usado a palavra corrupção, mas repetiu que existiam “segundas intenções” na postura da instituição. Ele não diz quais são as segundas intenções nem manda abrir processo. Mais do que um crime de prevaricação, Bolsonaro ataca uma instituição séria e qualificada de vigilância sanitária, num momento delicado da luta dos brasileiros contra a pandemia. E abre mais uma frente de conflitos com oficiais de alta patente das Forças Armadas que não se dobram à sua estupidez.
Recife, 14 de janeiro de 2022.
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